Estudo aponta semeadura direta como um método eficaz para promover a biodiversidade no Cerrado

Um recente estudo intitulado “Ten years of directing seeding restoration in the Brazilian savanna: Lessons learned and the way forward”, publicado pela Revista Journal of Environmental Management, revelou avanços e desafios no manejo e reintrodução de espécies nativas do Cerrado. Conduzida em 22 áreas de restauração, incluindo áreas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), semeadas a partir de 2012, a pesquisa detalha a trajetória da semeadura direta como um método eficaz para promover a biodiversidade nessa savana tropical. 


Entre os principais resultados, destaca-se a sucessão das espécies ao longo do tempo, com uma transição observada de plantas de crescimento rápido para espécies de crescimento lento ao longo dos 10 primeiros anos após a semeadura. 


O estudo, que analisa uma década de projetos de restauração em savanas Neotropicais do Brasil Central, documenta as maiores e mais antigas áreas de savana brasileira restauradas por semeadura direta. A pesquisa visa compreender a resistência estrutural e funcional dessas áreas, verificando se há restauração da vegetação nativa e resistência à invasão de espécies exóticas, além de fornecer habitat para a regeneração natural de espécies locais. 


Durante o estudo, observou-se que um dos principais desafios identificados foi a presença de Gramíneas Exóticas Invasoras (GEI), que competem com as espécies nativas e impedem a restauração total da vegetação. O processo de invasão ocorre devido às altas taxas de crescimento e reprodução das GEI, associadas à sua alta capacidade de rebrota após fogo e/ou pastejo, conforme aponta a literatura científica Caramaschi et al., 2016; Gorgone-Barbosa et al., 2016. 


O estudo, realizado por diversos pesquisadores brasileiros, revela ainda, que práticas de controle, como a capina após a semeadura e a manutenção de um solo com baixo pH e fertilidade, ajudam a reduzir a dominância das Gramíneas Exóticas Invasoras, favorecendo as espécies nativas. Apesar do sucesso parcial no estabelecimento de vegetação nativa, a pesquisa indicou que o controle contínuo das invasoras é fundamental para evitar o retorno de espécies exóticas e para sustentar a regeneração do Cerrado. Como a restauração de savanas e áreas campestres é em sua maioria recente, as trajetórias de restauração e os motivadores da montagem comunitária ainda são pouco conhecidos (Pilon et al., 2021). 

Entender esses processos é imperativo, especialmente na savana brasileira, onde mais de 6 Mha devem ser restaurados em Áreas Protegidas Públicas e terras privadas para cumprir com as leis nacionais (Guidotti et al., 2017; Brasil, 2017). 


Neste contexto, cabe afirmar que a semeadura direta mostrou-se eficaz na introdução de diferentes grupos funcionais de plantas, permitindo a colonização por espécies nativas e uma dinâmica de rotatividade comunitária. Nos primeiros três anos, a vegetação foi dominada por espécies de crescimento rápido e ciclo de vida curto; após esse período, espécies nativas de crescimento lento e vida longa assumiram gradualmente a dominância nas áreas em restauração. Isto, desde que as GEI sejam mantidas sob controle nas áreas em restauração.


Foto: Matheus Rezende